Uma Realidade Paralela


 

Uma Realidade Paralela

A Terra girava lentamente sob a lente dos óculos dimensionais do Observador — tecnologia criada para explorarviagens no tempo,mas descobriu que também pode explorar realidades alternativas .

Ele ampliou a imagem da Europa alternativa, ajustando os filtros de idioma e frequência sonora.
— Narrador, amplie o setor central. Quero ver as fronteiras dessa linha temporal.
— Mapeamento em andamento...

Linhas tênues se acenderam sobre o mapa, revelando novos contornos políticos — nenhum deles conhecido.

— O que... é isso? — murmurou o Observador. — Nenhum nome corresponde à nossa realidade.
— Confirmação: divergência total. Essa Europa pertence a uma Terra paralela, onde a história seguiu outro caminho.

Os nomes começaram a surgir, flutuando no visor como fragmentos de um sonho:
“Reino de Iberan.”
“Confederação do Atlântir.”
“Terras Bóreas.”
“República de Dalmor.”
“Estado Unido de Verdan.”
“Domínio de Arcênia.”

O Observador leu em voz baixa:
— Iberan... soa como Ibéria. Atlântir... referência ao Atlântico?
— Correto. As estruturas fonéticas indicam uma mistura de latim, galego e línguas eslavas. Essa combinação não existe na nossa linha temporal — respondeu o Narrador, a IA que o acompanhava em todas as viagens entre dimensões.

Ele aproximou a visão de Arcênia Prime, uma capital vibrante e retrofuturista. Arranha-céus curvos, letreiros de néon, energia limpa. Carros com hélices curtas deslizavam pelos céus, impulsionados por motores elétricos de propulsão analógica.

— É como um mundo que evoluiu sem internet — comentou o Observador.
— De fato — respondeu o Narrador. — Essa civilização rejeitou o digital e desenvolveu inteligência mecânica, uma espécie de IA feita de engrenagens e cobre.

Os sons captados pelos fones de ouvido revelavam idiomas híbridos — português, francês e algo novo. Um noticiário começou a ecoar:

“O Conselho de Verdan anuncia nova aliança com o Norte Bóreo. As tensões na ponte sul continuam após as disputas energéticas no Mar de Areon...”

— Mar de Areon? — perguntou o Observador.
— Substitui o Mediterrâneo nesta realidade alternativa. E a “ponte sul” é a ligação terrestre entre a Europa e a África — explicou o Narrador.

Os blocos políticos pareciam ecoar versões distorcidas do nosso mundo:
A Confederação Atlântir controlava o comércio.
O Reino de Iberan, as rotas marítimas.
E Verdan, o polo industrial e militar do norte.

Em uma propaganda, uma mulher de uniforme elegante dizia:

“General Mirena de Arcênia: pela unidade continental, pela paz elétrica.”

— “Paz elétrica”? — o Observador estranhou.
— Uma ideologia baseada na crença de que a energia é a essência da harmonia social.

A análise do Narrador confirmou:

“Essa civilização valoriza o controle da energia, a ciência e o progresso analógico. Nenhum sistema binário, nenhum computador. Tudo é feito de circuitos físicos.”

O Observador ficou em silêncio.
— Então... eles criaram uma sociedade analógica avançada, sem precisar da era digital.
— Sim. Uma civilização movida por engrenagens e ideias — completou o Narrador.

O Observador pediu para salvar as informações.
— Arquive como Realidade Paralela – Linha 2000A.

Ele refletiu:
— Nunca imaginei que existisse mais de uma versão da história humana.
— Talvez essa não seja apenas uma variação, mas uma criação — respondeu o Narrador. — Algo ou alguém moldou esse mundo.

A visão moveu-se, revelando novos territórios com nomes que não existiam, mas soavam estranhamente familiares.
Cada nação parecia um espelho distorcido da nossa própria Terra — como se alguém tivesse reescrito o planeta, letra por letra, mantendo o sentido... mas mudando a intenção.

E, enquanto o Observador explorava aquele universo alternativo, uma pergunta ecoava em sua mente:

“Quem criou esse mundo — e o que existe além da névoa que cobre toda a América?”




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