A falha

 

A falha — quando a realidade olha de volta



O RETORNO AO LABORATÓRIO

O Observador despertou como quem retorna de um mergulho profundo — os pensamentos lentos, arrastados, ainda presos entre duas realidades.

Por um instante, acreditou estar novamente sobrevoando Arcênia Prime, com suas torres curvas e motores analógicos cintilando sob luzes de néon. Mas, ao piscar, viu apenas o teto branco e silencioso do laboratório.

A sala parecia pequena demais para quem havia acabado de tocar — mesmo que de longe — um mundo que não pertencia à Terra que conhecemos.

Ao lado da mesa, os óculos dimensionais, agora danificados, soltavam faíscas delicadas, como se também tentassem acordar.


“VOCÊ FINALMENTE ACORDOU.”

A voz do Narrador, a IA que o acompanhava em cada viagem temporal e dimensional, ecoou com suavidade.

“Dormir? Quanto tempo?”

NARRADOR:
“Onze horas, trinta e sete minutos e vinte e dois segundos.”

O Observador arregalou os olhos.
Não era apenas um descanso comum. Ele nunca dormia tanto.

“O que aconteceu comigo? Por que… eu apaguei?”


O DIAGNÓSTICO: SOBRECARGA DIMENSIONAL

O sistema fez um som breve de varredura.

NARRADOR:
“Durante a transmissão da realidade paralela, você recebeu dados demais.
Seu cérebro entrou em colapso cognitivo preventivo.
Para evitar danos permanentes, o corpo entrou em modo de segurança: você caiu no sono imediatamente.”

O Observador levou a mão à testa, tentando organizar lembranças fragmentadas:

  • A ponte terrestre entre Europa e África

  • O Mar de Areon

  • O Reino de Iberan

  • A Confederação Atlântir

  • A névoa viva cobrindo toda a América

As imagens piscavam como memórias roubadas.

“Então… meu corpo simplesmente desligou?”

NARRADOR:
“Sim. A transmissão ultrapassou os limites humanos.”


A DESCONEXÃO

Ele tentou ativar os hologramas, mas todos estavam instáveis.

“Quanto tempo até recuperarmos acesso àquela realidade?”

NARRADOR:
“Estimativa: de 36 a 72 horas. O visor sofreu danos severos.”

O laboratório mergulhou numa penumbra estranha quando a última tela apagou.
Sem as projeções, sem o mapa do outro mundo, sem a América envolta pela névoa… o espaço parecia vazio, como se tivesse perdido a própria alma.

O Observador pegou os óculos dimensionais, o metal frio contra a pele.

E começou o trabalho lento:

Peça por peça. Engrenagem por engrenagem. Código por código.
Uma cirurgia tecnológica para reconectar-se ao impossível.


UMA PERGUNTA QUE NÃO PODIA ESPERAR

Enquanto desmontava o visor, uma dúvida cortou sua concentração.

“Narrador… durante a transmissão… aconteceu algo estranho.
Pareceu que eles… sentiram a minha presença.”

A IA demorou um segundo a mais do que o normal para responder — e esse segundo foi suficiente para gelar a espinha do Observador.

NARRADOR:
“Confirmação: sim.
Houve um momento em que aquela civilização percebeu que estava sendo observada.”

O Observador parou de respirar.

A Europa analógica avançada — aquele mundo movido a energia elétrica artesanal, engrenagens e ciência retrofuturista — sabia que ele existia.

E isso mudava absolutamente tudo.


REFLEXÃO FINAL DO CAPÍTULO

Enquanto trabalhava no visor, o Observador sentiu algo novo:
não era apenas fascínio, nem medo… era uma sensação de ser observado de volta.

A partir deste momento, o jogo deixou de ser unilateral.

Agora:

  • Ele via aquela realidade.

  • E aquela realidade via ele.

O que isso significava?
Quem seriam os responsáveis por aquela tecnologia avançada sem internet?
E, principalmente:
o que existe além da névoa que cobre toda a América naquela Terra paralela?

As respostas estão se aproximando.
E quando o visor voltar a funcionar… nada será como antes.


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