O Enigma da Névoa Ainda Está Vivo

 

— O SILÊNCIO ENTRE AS REALIDADES

A reconstrução antes do próximo salto dimensional

O laboratório estava mais quieto do que nunca.
Nenhum alerta, nenhuma vibração, nenhuma leitura dimensional.
Apenas o som mecânico das ferramentas ecoando enquanto o Observador desmontava o que restou do visor.

A última conexão tinha deixado cicatrizes profundas no equipamento — e no próprio ambiente do laboratório. O ar ainda carregava um leve cheiro de metal queimado, como se a realidade paralela tivesse deixado sua marca no mundo deles.

O Narrador projetou luzes brancas, intensas, iluminando cada peça danificada.

Circuito de frequência quebrado. Núcleo espectral queimado. Estabilizadores de campo com 78% de falha. Precisamos reconstruir quase tudo.

O Observador respirou fundo, passando o dedo sobre o visor rachado — o mesmo que havia mostrado a ele fronteiras impossíveis, cidades analógicas futuristas e a América engolida por uma névoa impenetrável.

Vamos conseguir reparar isso a tempo?

Sim, respondeu o Narrador. — Se trabalharmos continuamente, teremos condições de tentar uma nova conexão. Mas será arriscado.

O Observador não respondeu.
Fixou-se na engrenagem central, a mais delicada de todas — responsável por recalibrar frequências dimensionais. Cada dente metálico guardava os ecos da última viagem.

Ele segurou a peça por um momento, atento ao próprio raciocínio:

Como algo daquele outro mundo conseguiu interferir tanto no nosso equipamento?
E se não foi a realidade… mas alguém?

O Narrador percebeu seu silêncio.

Você está pensando no mesmo que eu?

Sim.
Ele colocou a engrenagem na bancada.
Aquele mundo não parecia apenas existir. Parecia… responder. Como se estivesse consciente de que fomos até lá.

O Narrador não rebateu — o que já era resposta suficiente.


Uma Realidade que Não Quer Ser Ignorada

O holograma congelado do último contato ainda pairava sobre eles:

A América oculta.
A névoa pulsante.
As fronteiras da Europa reescritas.
A capital de Arcênia iluminada como um farol analógico.

O Observador se aproximou, estudando cada pixel.

Quando voltarmos… precisamos ir mais fundo. Não só olhar. Precisamos entender quem moldou essa geografia. Quem tomou essas decisões políticas. Quem controla o Mar de Areon, Iberan, Atlântir, Verdan…

O Narrador completou:

E quem está mantendo a América oculta.

— Exato.


A reconstrução começa

Cabos foram reorganizados.
Células energéticas substituídas.
O estabilizador principal recebeu um novo revestimento de blindagem térmica.

Para cada peça que o Observador encaixava, novas perguntas surgiam — e nenhuma resposta.

Vou recalibrar o fluxo de energia, disse o Narrador. — Precisaremos criar uma proteção extra. A última interferência quase derrubou o laboratório inteiro.

Quase.
Ele sorriu de canto.
Mas não conseguiu.

O Narrador piscou com leveza nas luzes do teto, sua forma de rir.

Ainda assim, precisamos estar preparados para o que vier. A próxima viagem não será como as outras.

O Observador enganchou a última engrenagem mecânica no visor.

Nem poderia ser. Já vimos demais para voltar atrás.



O Enigma da Névoa Ainda Está Vivo

Enquanto organizava as ferramentas, uma sensação familiar percorreu a espinha do Observador:

A mesma sensação que teve quando viu a névoa pela primeira vez.
Como se algo permanecesse observando-o… mesmo agora.

Ele olhou para o holograma congelado.

A névoa parecia imóvel.
Mas havia um detalhe:

Um leve movimento.
Uma oscilação quase imperceptível.
Algo cuja lógica não pertencia à física do mundo deles.

O holograma não deveria estar se movendo, disse o Narrador, surpreso.

O Observador estreitou os olhos.

Então não é o holograma.

Silêncio.

Prepare o laboratório, ordenou o Narrador. — Precisamos terminar a reconstrução antes que essa… coisa… tente interferir novamente.

Vamos terminar.
Os dois voltaram ao trabalho.
E quando tudo estiver pronto… vamos voltar para lá.

O holograma piscou.
A névoa oscilou — quase como uma respiração.

E então congelou de novo.

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