Interferência no Labirinto

 




 Interferência no Labirinto

O visor piscou três vezes — e tudo se apagou.

O Observador arregalou os olhos, instintivamente ajustando os controles manuais, mas as telas responderam com uma sequência de ruídos agudos e imagens distorcidas.
Linhas verticais cortavam o holograma, embaralhando rostos e lugares como fragmentos de um sonho quebrado.

— “Narrador, status dos sistemas!”

“Falha crítica detectada. Módulo de varredura óptica comprometido.
Interferência externa interferindo no canal principal de observação.”

O Observador girou a cadeira, o coração acelerado.
Os monitores laterais mostravam códigos corrompidos, símbolos que se reescreviam sozinhos — como se alguém, ou algo, tentasse responder.

— “Desative o canal antes que sobrecarregue o circuito neural.”

“Negativo. O código está se reconfigurando em tempo real. Fonte não identificada. Sugiro desconexão física imediata.”

Ele arrancou os cabos de interface, um por um, o som metálico ecoando no laboratório. As luzes piscaram — primeiro em branco, depois em um azul profundo, quase orgânico.
Por um instante, o reflexo de Elyra apareceu no vidro interno da câmara, imóvel, observando-o.
Mas quando ele piscou… já não estava mais lá.

O Observador respirou fundo e começou o processo de reinicialização manual.
As máquinas reagiram com lentidão, como se estivessem cansadas de existir.

Painéis abertos, fios expostos, o cheiro de ozônio preenchendo o ar.
O Narrador manteve o tom firme, mas havia algo na sua voz — uma hesitação quase humana.

“Há resquícios de código híbrido nos arquivos de varredura. Eles não pertencem a nenhuma sequência registrada. Parecem… lembranças digitalizadas.”

— “Lembranças? De quem?”

“De você, talvez. Ou de alguém que compartilha seu mesmo padrão neural.”

O Observador parou.
O som das ventoinhas parecia um sussurro distante.
Ele olhou para os cabos desconectados, para as telas semiapagadas — e teve uma certeza incômoda:
a observação não estava apenas captando o outro mundo.
Ela estava sendo observada de volta.

As luzes de emergência acenderam em tom âmbar.
No visor principal, uma única linha de texto reapareceu, piscando devagar, como se fosse escrita por uma mão invisível:

“VOCÊ LEMBRA DE MIM?”

O Observador congelou.
O Narrador tentou interceptar o sinal, mas o código desapareceu antes da decodificação.

“Canal encerrado. Nenhuma origem rastreável.”

— “Não é possível…”
Ele recostou-se, exausto.
As telas agora mostravam apenas estática, e o holograma do mapa europeu reduziu-se a um brilho pulsante, instável.

“Recomendo manutenção completa dos sistemas antes de qualquer nova varredura. E... talvez descanso, Observador.”

Ele assentiu lentamente, ainda olhando o vazio luminoso diante de si.
No silêncio do laboratório, só restava o zumbido das máquinas e a pergunta que ecoava dentro dele —
uma pergunta que não vinha de fora, mas de algum lugar esquecido dentro de sua própria mente.

“Você lembra de mim?”

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