A África Alterada — A Realidade Alternativa que o Observador Descobriu
Som ambiente: ruído estático dos óculos ajustando coordenadas.
O globo virtual gira lentamente até fixar-se sobre o hemisfério sul da Terra alternativa.
A luz azul da interface reflete nas lentes do Observador, enquanto ele analisa o continente africano — uma versão totalmente diferente da nossa realidade conhecida.
NARRADOR:
— Coordenadas ajustadas. Foco direcionado para o continente africano. Detectando anomalia geográfica: uma ponte natural de terra conecta a porção sul da Europa ao norte da África.
OBSERVADOR:
— Parece uma cicatriz continental... algo que o planeta moldou sozinho.
NARRADOR:
— Com base nas leituras, a formação não é natural. Estrutura rochosa uniforme, densidade constante e ausência de falhas geológicas conhecidas.
OBSERVADOR (curioso):
— Então alguém construiu isso... ou algo reconstruiu.
O visor amplia o ponto de conexão.
A “ponte” de terra se estende como uma artéria entre dois mundos.
Estradas pavimentadas cruzam sua extensão, e comboios metálicos se movem lentamente — trens elétricos retrô-futuristas, semelhantes a locomotivas a vapor, mas silenciosos e alimentados por cabos de energia aérea.
OBSERVADOR:
— Isso é novo... eles eletrificaram parte das rotas continentais.
NARRADOR:
— Confirmado. Tecnologia baseada em corrente direta de alta tensão, com padrão industrial equivalente ao início da década de 1960 da nossa linha temporal.
OBSERVADOR (ajustando o foco):
— E quanto às cidades africanas?
O visor desce lentamente.
Regiões desérticas se intercalam com vastas áreas verdes, repletas de cidades monumentais: torres altas de pedra negra e metal, cúpulas douradas, ruas amplas e veículos silenciosos de design circular.
Imensas torres de rádio giram lentamente, emitindo pulsos sonoros que ressoam no ar.
OBSERVADOR (surpreso):
— Impressionante... parece que eles dominaram a energia solar e acústica.
NARRADOR:
— Correto. Detecto captação de luz solar e uso de vibrações sonoras como propulsão mecânica. Sistema eficiente, mas primitivo em precisão.
OBSERVADOR (encantado):
— E culturalmente... parecem unidos. Nenhum sinal de colonização ou divisão forçada.
NARRADOR:
— Confirmação obtida. O continente está dividido em cinco grandes confederações africanas, todas sob tratados de cooperação. Nenhuma bandeira estrangeira, nenhum símbolo de domínio externo.
OBSERVADOR (pensativo):
— Então, nessa realidade alternativa, a África evoluiu por conta própria.
Sem invasão. Sem conquista.
NARRADOR:
— Exato. E o curioso é que o progresso tecnológico deles é paralelo ao europeu, mesmo sem contato direto.
O visor mostra uma praça central vibrante, cheia de pessoas com roupas tecnológicas e coloridas.
Crianças brincam com dispositivos esféricos flutuantes.
Um cartaz exibe uma frase em uma língua híbrida, próxima ao árabe e ao bantu.
O tradutor do Narrador projeta na tela:
NARRADOR (lendo):
— “O som é a voz da Terra. Escute-a antes de tentar dominá-la.”
OBSERVADOR (baixo):
— Filosofia e ciência em harmonia... algo raro até na nossa realidade.
O visor continua em movimento.
Ao sul, algo chama atenção: uma península imensa, inexistente na Terra original.
Uma massa de terra do tamanho aproximado de Rio de Janeiro e Espírito Santo juntos se projeta para o Atlântico.
OBSERVADOR (analisando):
— E essa massa de terra? Ela não deveria estar aqui.
NARRADOR:
— Designação local: “Serra de M’Baku”. Registros indicam que ela emergiu há cerca de dois séculos, após o chamado “Despertar da Névoa”.
OBSERVADOR (assustado):
— Eles também mencionam a névoa?
NARRADOR:
— Sim. As inscrições afirmam que a névoa misteriosa apareceu ao mesmo tempo em que a Serra emergiu — um evento global e inexplicável até hoje.
OBSERVADOR (olhando o horizonte):
— Então... tudo está conectado. Europa, África... e a Névoa.
O visor detecta um brilho pulsante no limite do mar — um relâmpago silencioso vindo do oeste, na direção da névoa.
NARRADOR (voz firme):
— Atenção. Sinal energético detectado. Coordenadas: oeste africano, próximo à barreira da Névoa.
OBSERVADOR (fixo na imagem):
— Ela está reagindo... de novo.
O som aumenta, o visor treme, o sinal se perde.
Depois, subitamente, a imagem retorna.
Mas o que aparece agora não corresponde a nenhum mapa conhecido.
OBSERVADOR (sussurrando):
— Isso... isso não é mais o mesmo mundo.

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