ECOS DE ARCÊNIA

 


ECOS DE ARCÊNIA — O Despertar dos Mundos Sobrepostos

“Nem todos os olhos que observam estão vivos.
E nem todas as mentes que dormem estão em silêncio.”

A imagem tremeu. Depois estabilizou.
O Observador ajustou o foco, e o mundo diante dele se revelou: uma praça subterrânea, vibrando com luzes azuladas e ruídos abafados. Vozes cortadas por interferência ecoavam entre colunas metálicas, enquanto uma projeção translúcida mostrava linhas energéticas cruzando o mapa de Arcênia Prime, a cidade que nunca dorme — o coração pulsante de um futuro dividido entre realidades.

No centro, General Mirena discursava diante da projeção. Seu tom era firme, quase hipnótico.
O Narrador, a IA que acompanhava o Observador, registrava tudo:

“Trinta e cinco pessoas presentes. Oscilações mentais acima do padrão.
Há uma conexão comum... talvez a frequência dos dispositivos de pulso.”

O Observador fixou o olhar em dois rostos familiares.
Elyra e Kael Soren.
Irmãos. Cientistas. Rebeldes silenciosos.
Seus dispositivos de energia neural pulsavam em sincronia com o campo central, emitindo ondas harmônicas que dançavam entre o visível e o impossível.

“Narrador, isole o áudio deles.”

O ruído ambiente se dissolveu até restar apenas um diálogo sussurrado — carregado de tensão e mistério.

ELYRA (sussurrando):
— “As linhas estão vivas, Kael. Eu consigo senti-las… é como se me chamassem.”

KAEL (baixo, racional):
— “São apenas ecos mentais. Ondas ilusórias. Nada disso é real.”

ELYRA:
— “Mas e se for? E se for algo que quer ser lembrado?”

A frase dela perfurou o Observador.
“Lembranças que querem ser lembradas.”
O mesmo conceito que ele ouvira da voz na névoa, em outra linha temporal.

O Narrador confirmou:

“Sinal de Elyra Soren está emitindo pulsos harmônicos. Frequência semelhante à detectada na América Encoberta.”

O Observador empalideceu.
— “Você quer dizer que a frequência dela é igual à da névoa?”

“Compatível. Não idêntica. Mas próxima o suficiente para sugerir uma origem comum.”

No centro da praça, Mirena ergueu as mãos.
O silêncio se espalhou.
A projeção holográfica expandiu-se, revelando o contorno instável de um continente esquecido.

MIRENA:
— “Chamam isso de limite atmosférico. Mas nós sabemos... não é o ar que nos separa. É a memória.”
Ela fitou a multidão com olhos de aço.
— “Há mundos sobrepostos. Ecos do que fomos — ou do que poderíamos ter sido.”

Um murmúrio correu entre os presentes.
Elyra desviou o olhar, inquieta.
Kael, sempre lógico, gravava tudo mentalmente — como se buscasse a equação que decifrasse o impossível.

O Observador deu um passo atrás.
De repente, o brilho no pulso de Elyra oscilou e o visor captou algo impossível:
duas Elyras — uma sólida, outra transparente, movendo-se fora de sincronia.

— “Narrador… você viu isso?”

“Confirmação parcial. Distorção temporal de baixa amplitude.”

O Observador prendeu a respiração.
E então, Elyra ergueu lentamente o rosto.
Seu olhar atravessou o espaço, cruzou camadas de realidade... e fixou-se diretamente na lente do Observador.

Um pensamento não vocalizado atravessou o canal auditivo.

ELYRA (telepaticamente):

“Vocês… também estão procurando?”

O Observador recuou, atordoado.
— “Narrador, isso foi uma transmissão?”

“Origem: Elyra Soren. Canal aberto espontaneamente. Nenhum intermediário.”

Antes que ele pudesse responder, o canal se fechou.
Elyra piscou — e voltou a ser apenas mais uma no meio da multidão.

Mirena continuou o discurso sobre “A Linha da Memória”, enquanto Kael observava com desconfiança e Elyra tentava lutar contra algo invisível.
Mas o Observador não via mais a reunião.
Só via ela.
E a possibilidade assustadora de que alguém, fora da névoa, havia finalmente visto ele.

“Recomendação,” — disse o Narrador, em tom grave. —
“Acompanhar os dois individualmente.
Se ela conseguiu ver você… mais alguém poderá.”

O Observador assentiu, ampliando o mapa holográfico.
Duas luzes vermelhas pulsavam com intensidade crescente: Elyra e Kael Soren.
Mas desta vez, o foco não era apenas científico.
Era pessoal.
Ele precisava entender como — e por que — alguém fora da névoa conseguia lembrar dele.

E, talvez… lembrar o que o mundo esqueceu.

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